Uma transação bilionária está prestes a alterar o cenário bancário brasileiro – e acende um alerta vermelho no Distrito Federal e no mercado financeiro. O Banco de Brasília (BRB), instituição estatal com papel histórico no desenvolvimento econômico e social da capital, anunciou a intenção de adquirir o Banco Master por nada menos que R$ 2 bilhões. O movimento, porém, vem acompanhado de uma série de questionamentos sobre a razoabilidade da operação, a falta de transparência no processo e os potenciais riscos ao patrimônio público.
O tema foi denunciado nesta quarta-feira pela senadora Leila do Vôlei (PDT-DF), em discurso contundente no Plenário do Senado Federal. A parlamentar fez um apelo direto ao Banco Central (Bacen) para que avalie a operação com o máximo de rigor técnico e responsabilidade, destacando os riscos que a transação representa para o banco público do DF e, principalmente, para os recursos da população.
“Estamos falando do patrimônio de milhões de cidadãos do Distrito Federal. Não podemos permitir que uma operação deste tamanho se concretize sem transparência e justificativas técnicas necessárias”, alertou a senadora.

A operação chama atenção, sobretudo, pelo contraste com uma oferta que teria sido feita por uma das instituições mais respeitadas do mercado financeiro. O BTG Pactual, gigante privado do setor bancário, teria oferecido apenas R$ 1 simbólico pelo mesmo Banco Master. O motivo? O risco elevado da operação, que, segundo analistas, não justificaria qualquer investimento significativo. Diante disso, a pergunta inevitável surge: por que o BRB aceitaria pagar R$ 2 bilhões por algo que o mercado avalia em valor simbólico?
O banco dos altos riscos
O Banco Master não é um nome estranho aos especialistas do setor. Ele carrega um histórico de exposição a operações de alto risco, notadamente em sua política agressiva de captação. A instituição é, hoje, a maior devedora de CDBs no mercado de títulos privados cobertos pelo Fundo Garantidor de Créditos (FGC), concentrando cerca de um terço de todo o volume garantido pelo fundo.
Essa posição foi construída com uma estratégia arriscada: oferecer rendimentos superiores a 140% do CDI para atrair investidores, numa espécie de bomba-relógio financeira que agora ameaça cair no colo do BRB. O Banco Central, inclusive, já expressou preocupação com essas práticas, classificando-as como captação agressiva por meio de CDBs garantidos. Mesmo com os alertas, o BRB parece disposto a assumir essa carga explosiva, o que, para muitos especialistas, vai na contramão da lógica de gestão pública responsável.
Contradições do GDF
O episódio também escancara uma contradição no discurso do governo do Distrito Federal. O governador Ibaneis Rocha é conhecido por defender a privatização de setores essenciais, como saúde, energia e transporte, sob o argumento de que o Estado deve ser mais enxuto e eficiente. No entanto, quando se trata de investir bilhões em um banco privado de alto risco, os critérios de prudência parecem ter sido deixados de lado.
“Quando se trata da saúde, da energia e de outras áreas estratégicas que atendem à população pobre do DF, o discurso é o da necessidade de vender ativos para sanear as contas públicas. Contudo, quando se trata de adquirir um banco privado e arriscado, os princípios da prudência e eficiência administrativa são prontamente esquecidos”, criticou Leila.
Presidência questionada
A situação se torna ainda mais delicada ao lembrar que o atual presidente do BRB, Paulo Henrique Costa, teve seu nome rejeitado pelo Banco Central para a recondução ao cargo. A negativa, não explicada publicamente até o momento, lança dúvidas ainda maiores sobre a gestão da instituição e a condução dessa negociação bilionária.
Por isso, a senadora Leila do Vôlei apelou diretamente ao Banco Central, pedindo que a operação seja avaliada com total transparência e responsabilidade, e reforçou o pedido de audiência pública na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado para que o tema seja debatido com a sociedade.
“Estamos pedindo uma audiência pública na CAE para que essa situação seja debatida e seja dada voz aos minoritários”, defendeu a parlamentar.
O que está em jogo
Mais do que uma operação financeira, a compra do Banco Master pelo BRB é vista por especialistas e parlamentares como uma ameaça ao patrimônio público e uma possível bomba fiscal que pode estourar no colo da população brasiliense.
“Temos de respeitar o patrimônio da população do Distrito Federal, dos seus empregados e dos servidores do DF. O BRB é um patrimônio dos brasilienses. Que não se permita que uma negociação temerária coloque em risco o seu futuro e, principalmente, o futuro daqueles que dependem deste banco para o desenvolvimento econômico e social da nossa cidade”, afirmou Leila.